COMO SAIR
DO SETE A UM
Porto
Alegre,18 de agosto de 2025
Fomos conhecidos no passado como o país do futebol. Ainda hoje nossos jogadores são exportados, alguns ainda
menores de idade e por muitos milhões, para os maiores times do mundo e da
Europa, onde o futebol nasceu. Jogadores são a matéria-prima do esporte que
leva multidões aos estádios, numa paixão universal. Essa paixão tem sido contaminada por uma nova forma de financiamento que troca o amor à camiseta pela lógica do dinheiro. Muito ruim.
De onde
vêm os recursos do futebol hoje? A Europa e suas ligas comandam o jogo dos
patrocínios. As bets são os maiores financiadores (15 clubes), seguidas
de empresas de aviação e financeiras (9), bebidas (6), automóveis e
telecomunicações (5). Vestem os jogadores 3 principais empresas: Adidas, Nike,
Puma. Seus produtos são vendidos no mundo todo vestindo os torcedores e suas
paixões. O valor da empresa depende do número de seus consumidores. São milhões
no futebol.
Jogar saiu
dos cassinos e virou um toque no celular, instantâneo, em qualquer lugar. Como
subproduto, há um aumento exponencial do endividamento, inclusive de jovens menores de
idade, que se viciam nos jogos pelo celular. O TRF-4, nosso Tribunal de
Justiça, criou um setor para tratar disso que é uma praga nacional: o
endividamento e os crimes que são cometidos contra as pessoas quando tentam
escapar dele.
No jogo
se ganha ou se perde. Já no jogo social justo ou no político democrático o que
se busca é organizar um jogo de soma zero: todos jogam e por aceitarem as
leis, as regras de convívio, não são explorados por outros que só jogam para ganhar. Se não for assim, forma-se ali adiante a crise social, acumula-se rancor.
Neste que já foi o país do futebol
infelizmente o ditado popular para perder em qualquer
área é esse é um 7 a 1. É perder feio. 7 a 1 foi o resultado do vexame
que passamos na Copa do Mundo de 2014, realizada no Brasil, em que a Alemanha
nos surrou de 7 a 1 logo de saída. Nossos jogadores de muitos milhões de
euros choraram feito bebês. E daí por diante foi só vexame.
Nossos jogadores quando vêm formar nossa Seleção têm jogado mal. Parece que deixam lá fora suas qualidades. Uma das razões, dizem especialistas “à la antiga”, é o desapego à camiseta. Não se defende a nação, como algumas honrosas seleções o fazem, e sim a camiseta de ocasião, a do time patrocinado. Com isso, corrompe-se o tecido social formador de tudo. Muito ruim.
O mesmo acontece na política. Segundo a lei, o partido atreavés do qual se forma a política eleitoral, tem caráter nacional e é formado por um tripé: estatuto, programa,
e sua instituição de pensar (think tank). Partidos conduzem as propostas políticas, por exemplo, para a saída quando vivemos crises nacionais. Como as dos anos 1960.
Figura 1: think tank
Uma crise promove mudanças que dependem de decisões políticas. No Brasil por um acordo político escolhemos Tancredo Neves num parlamentarismo curto para enfrentarmos a crise durante a luta contra a guerrilha dos anos 1960-1970. Tínhamos um projeto, faltava a agenda. O movimento nessa direção só tomou tamanho e rumo no período das Diretas Já, em 1984. A aceitação de uma eleição indireta, de novo com Tancredo vencedor, foi o passo dado sem armas para o retorno a uma democracia plena, eleitoral e de direito. Tancredo comprometeu-se com a construção do estado democrático de direito a partir de uma nova constituição. Morrendo dias antes da posse, não pode conduzir o processo, mas seu vice, José Sarney, honrou o compromisso.
A Constituinte de 1988 escreveu uma nova constituição em 1 ano. Um imenso feito. É essa mesma Constituição que nos conduz desde então. Mudou tudo, e novos partidos nasceram. Com novas regras, foi realizada a primeira eleição direta para presidente da minha geração, em 1989. O que veio depois já é História. O que está vindo agora é um perigo.
Assim como no futebol não é bom
perder de 7 a 1, na política perde-se quando a paixão pelo partido é substituida pela lógica do dinheiro para sustentar o poder de dirigentes e suas instituições. O bom é que tudo
o que é vivo tem tempo para durar. No caminhar produzem-se as condições para um novo projeto com uma nova agenda, que substitua uma ordem que não serve ao coletivo. Por não servir, a economia encolhe, a inflação salta, a desigualdade machuca, o coletivo grita.
Está gritando. Quer mudar. Muito bom.
Concordo. Nosso passado é histórico. Concordo também com sua frase “o que está vindo é um perigo", pois revela a preocupação, arrisco a dizer, da maioria dos brasileiros com o presente e o futuro, indicando que mudanças são urgentes porque as tendências atuais são ameaçadoras.
ResponderExcluirTem muita gente boa querendo acertar. Que bom.
ExcluirO caminho para reordenar o pais e criar um sistema de equilibrio entre os poderes do Estado ( freios e contrapesos) so com nova constituição. Da forma como esta sem segurança juridica nenhuma estamos colocando o pais ladeira abaixo. Nova constituinte é extremamente necessaria
ResponderExcluirCreio que está amadurecendo essa consciência do que falta, e estão se agrupando pessoas dispostas a atrabalhar pelo bem comum com um projeto que crie consensos.
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