ANOS LOUCOS: AS DÉCADAS DE 20 E OS MOVIMENTOS DO CICLO (II)
Maio de 2025: fechando mais um mês intenso.
Escrever é uma arte. Nesta minha fase de vida
bem vivida tenho o tempo e a vontade necessários e suficientes para aprender a
escrever. Escrever não como quando desde adolescente o fiz em diários; ou quando
economista e professora da ativa; ou quando colaboradora de jornais, revistas e
livros da minha época de comunicadora; ou ainda quando atuei nas peças das 12 campanhas
das quais participei como política. Quero escrever, e sei que algumas pessoas
poderão me ajudar a fazê-lo, como arte. De artesã, mas arte.
Tenho uma direção, a mesma de quando busquei pelos
estudos de Economia entender o mundo através da História, da Geografia, da
Matemática, das línguas. Eram essas as matérias do vestibular para Ciências
Econômicas à época: os anos 1960. Pela História conhecemos alguns períodos que
são marcantes por seus movimentos intensos, carregados de novas experiências e
de esperanças da humanidade pela chegada dos "novos tempos". O nosso é um deles.
Vivemos a transição entre uma nova ordem em
construção e a velha ordem, base sobre a qual foi sendo construída a
civilização ocidental desde o Renascimento até a grande mudança da geopolítica
mundial dos anos 1990. Em transição, tudo é incerteza e probabilidade,
mas estar no mundo exige que tomemos decisões sob incerteza e
risco. Aliás, uma agradável leitura sobre esse campo bem complexo de
conhecimento levou o livro "A Lógica do Cisne Negro",
publicado em 2007, de autoria do libanês Nassim Taleb, a estar na lista dos livros
mais vendidos no mundo e influenciado muita coisa desde então. Vou, portanto,
continuar arriscando, nessa busca pelo conhecimento, escrevendo e me
comunicando.
Tenho seguido um roteiro nas crônicas que
publico neste blog, contando com a paciência da atenção e a generosidade das
críticas e sugestões de seus leitores. Como forma de escrita, para simplificar
o argumento, gosto de agregar o que considero mais importante de um período
numa linha do tempo, dividindo esse tempo em anos, décadas,
séculos. Para nós, viventes desde 2025, centrando no presente o que
comunicamos, podemos até dividir o tempo por milênios - afinal, fomos
agraciados vivendo o alvorecer deste nosso terceiro milênio.
Desde sempre os seres humanos se perguntam
sobre o próprio futuro consultando oráculos, prescrutando os astros, desenhando
cenários, fazendo previsões. É um crescente desejo podermos contar com tempos
disruptivos, para romper com a desagradável e persistente sequência de fatos
negativos do atual momento, que se tem feito acompanhar por uma certa inanição
e pelo medo de enfrentar essa tendência, como se nada pudéssemos contra ela. Disruptivos,
e não revolucionários. Com raríssimas exceções, revoluções sempre cobram um
preço muito alto pelo que prometem e não cumprem. Afinal elas se baseiam, via
de regra, num possível retorno ao ideal de uma Terra Prometida como
aquela em que foi oferecido a Adão e Eva o fruto proibido do conhecimento mas
que, por comê-lo, foram expulsos do paraíso. Só que conhecer é uma compulsão.
Difícil viver sem ele, sem buscar um sentido para o ser, não se deixando
conduzir por uma revolta contra as coisas do mundo real.
São muitos os exemplos concretos de revoluções
e suas custosas consequências. Há o da Terra Prometida de uma
sociedade sem desigualdades, como a do Manifesto Comunista, de
Marx e Engels (1848) - e sabemos quantos milhões de mortos produziu e quanta
barbárie foi cometida em nome da revolução da nova classe operária contra a
classe opressora dos patrões capitalistas. Ou o da República de Platão (escrita
há 2400 anos em Atenas, Grécia), prometendo o regime de governo da
democracia, em que o poder emanava de um povo, muito seleto que se reunia e
votava, como alternativa aos desmandos da autocracia - e que vigiu apenas por
um curto período seguido por sangrentas revoluções oligárquicas. Ou o da Revolução
Francesa (1789/1799), prometendo uma forma de governo em que os
governantes eleitos em República que poria fim aos desmandos da Monarquia
Absolutista - mas que se fez à custa do Período do Terror e de
subsequentes revoluções intestinas, com seus milhares de mortos. Ou o da
Revolução Cubana, ou da Nicaraguense, ou da Chinesa, ou da Moçambicana, e
tantas outras mais próximas no tempo, em todos os continentes, levando à perda
de milhões de vidas pela violência - e que vem servindo à transformação de
regimes corruptos em ditaduras duradouras e sanguinárias.
Nas crônicas interagem várias formas de
linguagem no tema que o dia levanta, despertada como sou do mundo dos
sonhos a cada alvorecer: fotos, músicas, vídeos, textos de outros. Para
dar ordem a uma riqueza que o cérebro produz pelos sonhos, e que não é possível
reproduzir depois que desperto, apresento o fato e o que ele suscita em três
períodos: (I) o que já passou, em registros selecionados de lições que
aprendemos com a nossa experiência, com a que apreendemos dos outros, e com a
de todos; (II) o presente –o que acontece que tem feito crescer um certo
"mal estar da civilização", como disse Sigmund Freud (1929–1930)
sobre "o importante choque entre nossa cultura e nossos impulsos - ou pulsões,
ou entre o desejo de individualidade e as expectativas da sociedade", mesmo quando tanto temos para viver melhor; e (III) o do eterno
desconhecido, que é nosso futuro –não em busca do "tempo
perdido" de Marcel Proust (escrito e publicado entre 1908 e 1922), ou o de
uma nova Terra Prometida pelas utopias, e sim a partir de
sinais com que o vislumbramos a ele, o futuro. Devemos ouvi-los, pois sinais
são diferentes de ruídos, como me ensinou meu professor de incerteza e risco.
São elementos distinguíveis dentro da realidade complexa que buscamos
compreender, mas ainda não conseguimos explicar. E que caem na variável μ dos
fascinantes –para mim, modelos econométricos. Ruídos são a designação que damos
para sinais indesejáveis que aparecem no meio de uma transmissão –como a que
nos oferece o mundo real quando o observamos, mas que é complexa demais para
que os sistematizemos como uma variável, uma causa, uma informação.
O bom é jogar luz sobre um possível caminho,
mas não cair na tentação de antecipar esse futuro, como fazem muitos que
desenham os cenários do amanhã - deixando esse exercício à generosa produção de
livros, de criativas ficções científicas disponíveis nos streamings, das
previsões do mercado financeiro, e disponíveis nas quase infinitas criações no
Youtube.
I - Antecedentes: o que foi.
A década dos anos de 1920, conhecida como a
década dos Anos Loucos do século XX, foi um desses
períodos. Passados os horrores da I Grande Guerra (1914/18) - e seus
milhões de mortos; e da gripe espanhola (1917/19) - e seus milhões de mortos; o
mundo foi se movimentando dentro de um "novo normal" a partir das
chamadas revoluções políticas, tecnológicas, e das artes. Um tratado de
paz apressado e mal costurado pôs fim à I Guerra (Tratado de Versailles, e a
criação da Liga das Nações, 1919), cobrando custos de reparação aos perdedores
que os exauriram, fazendo apurar um caldo de ódio que alimentou o que
viria a seguir: os extremismos, e com eles a disputa pelo poder através de nova
guerra.
Durante um longo período o mundo havia se
organizado em torno de monarquias e impérios. Ruindo a estrutura que os
mantinha, foi sendo desenvolvida uma nova forma de governo, a República,
sustentada pela economia das Revoluções Industriais, pela organização dos
mercados financeiros, e pela pujante troca global de produtos de toda parte do
mundo para toda parte do mundo. Com a liberdade do período na nova sociedade
industrial de consumo surgiram movimentos artísticos modernistas a se
multiplicar a partir da Europa. Após a Ia Grande Guerra e a gripe
espanhola, no Rio pode voltar o carnaval de rua, nos Estados Unidos a
música que alegrava os Dancin'days do charleston, o mundo todo
se encantava com a indústria de filmes. Na Europa "os encontros de
Paris" reunia artistas de ampla diversidade e maior liberdade ainda. Chega
ao Brasil o movimento da Semana da Arte de 22. Na política a Revolução Russa de
1917 emulava a formação do "partidão" no Brasil e em todo o mundo.
Novos direitos eram reconhecidos, como o das mulheres de votar - graças ao
movimento das sufragistas. Nas ciências - para além das descobertas pioneiras
de Darwin, Edison, Tesla, Marie Curie, Freud, Einsten - novas descobertas da
física, da química, da astronomia, da biologia, da Revolução Industrial,
estimulavam a fabricação em série de máquinas como automóveis - e novas armas
de guerra. Um febre de consumo se espalhou em escala global. Redivivo, o deus
ex machina dos gregos.
Grandes fluxos de imigração dirigem-se à
nova Terra Prometida: a América do Norte, onde emergia a nova potência,
os Estados Unidos, país onde seus Fundadores haviam instituído em carta
constitucional (1787) as bases para uma duradoura democracia baseada na
defesa da liberdade e do livre mercado.
Até que em 1929 aconteceu a quebra da Bolsa de
Nova York, levando o mundo conectado pelos mercados financeiros e comerciais à
Grande Depressão. Enquanto isso, com o empobrecimento da Alemanha e dos países
perdedores da guerra, na esteira das ideias políticas revolucionárias, os
"ismos" na Europa se organizavam com toda a força. Nazismo, fascismo,
comunismo, produziam e acumulavam sementes para as "novas" guerras,
apurando o caldo que serviu como alimento para o nascimento de estados totalitários,
encobrindo o sol da liberdade. As consequências até hoje estão no ar que
respiramos.
As razões que levaram à disputa de poder da I
Grande Guerra não haviam sido equacionadas. Empobrecimento e rancor fazem
eclodir a II Grande Guerra (1939/45) - com seus milhões de mortos. A entrada
dos Estados Unidos na guerra veio com a fabricação e o uso de nova arma - a
atômica, trazendo pela primeira vez a consciência de que ela poderia por fim à
própria humanidade. O fim da guerra, em 1945, com a Conferência de Yalta, a
criação da ONU (Organização das Nações Unidas), e a assinatura prévia dos
acordos de Bretton Woods (1944), deram forma a uma nova divisão política e
econômica do mundo, com um novo sistema monetário internacional e dois grandes
blocos de países líderes, Estados Unidos e Rússia/União
Soviética. Iniciava-se o ciclo do pós guerra (1945/1989)
com essa divisão do mundo, com uma acelerada globalização, novos produtos
da Era da Internet, e os mercados financeiros com suas moedas-forte comandando
o jogo econômico. Um bloco agregou democracias e assentou-se na defesa da
liberdade; outro agregou os países comunistas, ditaduras de estados
totalitários. Um outro bloco mais formou-se com os chamados "países do
Terceiro Mundo", onde nós ficamos, periféricos nos fluxos de comércio, na
produção do mundo industrializado, de suas moedas, e de sua
cultura. Dependentes do padrão de riqueza construído por outros,
esquecidos da imensa riqueza de que somos feitos.
Nos anos 1970, uma nova guinada freou o
crescimento global, somando duas rupturas: a da URSS e a da ligação do dólar
com o ouro. O fim do padrão-ouro (1971) no governo Nixon gerou a instabilidade
do mercado monetário internacional. Já os "choques do petróleo"
(1973/1979) geraram a alta inflação mundial. Sendo os contratos internacionais
feitos basicamente em dólar a uma taxa de juros fixa, os países endividados em
dólar começaram a quebrar sequencialmente, sofrendo com a hiperinflação. O
bloco dos países socialistas (URSS) não acompanhou o crescimento da
produtividade dos países de livre-mercado, provocando a crise econômica que
levou à saída dos países do bloco comandado pela União Soviética. Veio abaixo o
edifício construído por Bretton Woods pela divisão do mundo da Guerra Fria,
simbolizado pelo Muro de Berlim, com sua derrubada em 1989. Estava posta a
necessidade de um novo acordo global, de uma nova fase de ciclo mundial, que
veio nos anos 1990 com a constituição da União Europeia, a criação do euro, a revolução
nas comunicações e nos transportes, a proposta do Consenso de Washington. Tudo
ao final do segundo milênio.
A virada para o novo milênio veio carregada de
esperanças de um mundo melhor. A Agenda da ONU para o novo milênio
colocou-se como guia para a cooperação mundial. Mas por pouco tempo.
A derrubada das Torres Gêmeas de Nova York em 2001 freou a onda de
liberdades em nome da segurança. O estouro da "bolha
imobiliária" de 2008 trouxe o perigo de uma nova Depressão Econômica. O
mundo vivia uma nova fase de incertezas e medos. Já conectadas pelas
novas tecnologias digitais, multidões organizadas por redes sociais
passaram a se juntar nas praças clamando por liberdade, pelo fim das
ditaduras e da corrupção. Era a Primavera Árabe. A derrubada de governos
corruptos a partir de operações como a Mãos Limpas (anos 1990 na Itália) e a
Lava-Jato (2014/21 no Brasil) pareciam conduzir-nos a um "novo
normal".
Chegamos assim ao início da nossa década de
20, a do século XXI. Apanhados pela pandemia do coronavírus - com seus milhões
de mortos - os países fecharam as suas fronteiras. Terminada a pandemia,
multidões saíam buscando festa, e uma nova forma de liberdade passava a ser
permitida pela emergência das redes sociais. Reabrem-se as fronteiras, emerge a
potência China, e reafirma-se a cultura do consumo. Fluxos de migração
voltam-se novamente para a Europa unificada, como a renascida Terra Prometida.
É gritante a semelhança. A mesma década dos 20, dois séculos, a mesma
humanidade mudando direções, mas repetindo os movimentos de um século
atrás.
Nos 4 bilhões de anos de existência da vida na Terra, existimos como Sapiens
Sapiens há apenas 10 mil anos desde que, no fim da última Era Glacial,
recebemos um tépido planeta que gerou as condições da vida que temos, com a
maravilhosa diversidade de que é feita. Se é certo que apenas o ser humano
inventou a roda e a linguagem, também é certo que nossa ação introduziu enorme
riscos para a sobrevivência na Terra. Explico. A roda mudou o mundo pela
mobilidade que permitiu, e a sua incorporação às máquinas pela tecnologia até
hoje. Já a linguagem nos alçou a patamares de conhecimento e ação únicos dentre
os demais seres vivos. Continuamos a avançar muito e muito rapidamente na
ciência e na tecnologia. Mas o ritmo de desenvolvimento nessas áreas parece não
considerar que um avanço infinito não é possível num planeta de recursos
finitos. Temos usado esses recursos sem cuidar da sua eficiência, que é o
retirar deles o mesmo que pudermos colocar em troca, ao que damos o nome de
sustentabilidade. Crescer sem limites é insustentável.
Há também os negacionistas, para quem não
existe o que veio antes, repetindo o "nunca antes na história
deste país". Por vaidade e ignorância, negam que o mundo começou muito
antes deles, quando a História e a concretude da ancestralidade tornam-se
presentes por um simples exame de DNA. A História cria registros que um
ChatGPT ou um Google nos trazem instantaneamente assim que o perguntamos sobre
qualquer assunto - e tome-se cuidado com a IA, a Inteligência Artificial que
tudo pode remeter a um mundo paralelo. E pelo lado do comportamento humano há
também os que pensam que por serem donos do que têm exploram/acumulam para ter
sempre mais, gerando a desigualdade crescente; há os que invejam o que os
outros têm e passam sua vida roubando os bens materiais ou a própria vida de
outros- vide os feminicídios.
São duas faces da mesma moeda: a espécie
que cria é a mesma que destrói.
II - O presente: o que está sendo, já foi e
será, em previsível repetição dos ciclos
Vida é movimento. Vida é ciclo. Tudo que é vivo tem um começo, se expande até um teto (máximo), se retrai até um piso (mínimo), volta a se expandir, e assim vai. Uma vez só, como é a vida dos humanos, ou repetidamente, como os ciclos de negócios, os climáticos, os bioquímicos, os menstruais. Ciclos tem várias naturezas, diversas durações medidas em curtos ou longos prazos. Para representá-los o círculo é dividido em 4 partes em torno de uma linha do tempo. Esses gráficos facilitam a compreensão dos fenômenos que não param, na História que tudo registra. Como nas figuras 1, 2 e 3.
Ciclos econômicos longos foram estudados pelo economista russo Nikolai
Kondratiev (1892/1938). Segundo ele, são formados por períodos longos que levam
de 40 a 60 anos, e explicados como parte das revoluções tecnológicas que
marcam com intensidade o mundo capitalista, ocasionando ondas de
crescimento e de crises. Por ele foram estudados os ciclos longos que
levaram da ascensão à queda das máquinas à vapor (1790-1850), das ferrovias
(1850-1896), da eletricidade junto ao aparecimento dos automóveis (1896-1930).
Hoje pode-se acrescentar o ciclo da revolução tecnológica iniciada pelo
computador.
Em seu livro Capitalismo,
Socialismo e Democracia, publicado nos Estados Unidos, em 1942, diz: "Esse
processo de destruição criativa é o fato essencial do capitalismo. O capitalismo consiste nesse
processo e é nele que toda empresa capitalista tem de viver." (Joseph A.
Schumpeter) . Nos dias atuais podemos trazer como exemplo de
destruição criativa a energia solar, o Uber, o iFood, o AirBnb etc etc... Causam
reações quando criados, depois se compreende a força econômica que ajudam a
gerar.
Espírito animal (em
inglês, animal spirits) é o termo que John Maynard Keynes usou em seu livro de 1936 The General Theory of Employment,
Interest and Money para descrever emoções que influenciam o
comportamento humano. "Mesmo posta de
lado a instabilidade devida à especulação, há instabilidade devida à
característica da natureza humana de que uma grande proporção de nossas
atividades positivas depende mais de otimismo espontâneo do que de expectativas
matemáticas, sejam morais ou hedonísticas ou econômicas (...) Só podem ser
tomadas por resultado de um impulso espontâneo para a ação, ao invés da inação,
e não como consequencia de uma pensada média de benefícios multiplicada pelas
probabilidades quantitativas.
John Maynard Keynes e Joseph A. Schumpeter foram dois dos principais
economistas que influenciaram o mundo que herdamos das Grandes Guerras, pois
entenderam como poucos o espírito do capitalismo, a incerteza e a dinâmica
econômica dos ciclos. Entenderam, o seu tempo, tempo de transição por disrupturas.
Schumpeter nasceu em 1883, no mesmo ano de nascimento de Keynes e da morte de
Marx. Essa coincidência nos levou, como dirigentes da UFRGS a partir da
Faculdade de Ciências Econômicas, a celebrar um século depois a data
realizando, no IEPE/UFRGS, a disruptiva Semana Marx-Keynes em 1983, quando
ainda vivíamos sob o regime militar e não se falava livremente nem sobre Marx,
nem sobre a defesa do liberalismo... Muita coisa aconteceu desde
então, mas a volta ao ponto original dos ciclos não cessou e, pelo contrário,
nos traz a este 2025 pleno de desafios.
Autores sobre incerteza e risco
têm sido premiados nos dias de hoje com o Prêmio Nobel, seguindo uma trajetória
considerada por Keynes como uma força endógena do sistema capitalista –a
incerteza– e por Schumpeter – a inovação– como tal. Schumpeter mostrou que
a inovação e o espírito empreendedor moldam os movimentos cíclicos. Disse:
"na expansão estão as sementes da recessão, e na recessão estão as
sementes da recuperação". Foi presidente-fundador da Econometric
Society (1933). Keynes revolucionou a matemática, a economia e a
política com seus 3 livros principais: As Consequências Econômicas da Paz
(1913), Um Tratado da Probabilidade (1921), e A Teoria do Emprego, do
Juro e da Moeda (1936). Como crítico do tratado de paz após a I Grande
Guerra, considerando os pesados custos infringidos à perdedora Alemanha, foi
importante conselheiro para as políticas de saída para a Grande Depressão de
1929, e para a assinatura dos tratados de paz após a II Grande Guerra. Até hoje
as digitais de ambos podem ser identificadas nas políticas econômicas que o
mundo pratica.
O mundo, no entanto, mudou muito
desde as obras desses autores. Não mais vige a ordem construída até o
século/milênio passado. E se pergunta um tanto aflito “o que fazer” para evitar
que o lado que destrói avance sem volta sobre o que constrói. Essa é a pauta do
futuro em relação ao qual somos responsáveis.
IV - O que será: o futuro se constrói hoje.
É gritante o contraste mostrado entre os
avanços da C&T e o retrocesso registrado por fatos da última semana de
abril.
Por um lado, nos feriados desta Páscoa no Rio
Grande do Sul foram registrados 10 feminicídios, todos cometidos pelos
ex-companheiros das vítimas, das mais diferentes idades, nas mais diversas
situações. Estoura também de modo avassalador o tamanho e a aceleração do roubo
praticado contra pensionistas e aposentados do INSS nos últimos anos. Todos os
meses era retirada diretamente do contracheque dos mesmos uma certa
"contribuição a associações de defesa dos aposentados e sindicatos da
área" de quem o INSS deveria cuidar. É um novo Mensalão, de
mesma natureza da do escândalo que completa neste 6 de junho 20 anos. Já o modo
de julgamento de processos sobre possíveis golpes e sobre o que pode ser
considerado fakenews pela nossa Suprema Corte (STF) sacodem todos os
setores da sociedade num arrepio pois coloca em dúvida a segurança na
capacidade de se fazer Justiça, valor mais alto de uma organização social.
Por outro lado, no mesmo período o
telescópio James Webb, lançado ao espaço em 2021, segue nos
enviando imagens da existência de elementos, muito distantes no Universo
que ele percorre, que são a base para a criação/existência da vida –para além
dessa maravilhosa vida que está na Terra. Com o sequenciamento do genoma temos
sido capazes de produzir vacinas para combater a inteligência dos vírus e das
bactérias que se fortalecem e produzem as endemias e as pandemias. Entrando em
maio, são lembrados e homenageados os milhares de voluntários que atuaram nas
enchentes do ano passado, mudando suas vidas e dedicando o que tinham de melhor
para minorar o sofrimento causado pela catástrofe que tirou tantas vidas e
destruiu parte de nosso estado.
Muitos aproveitaram a oportunidade e
aprenderam com as lições da década dos 20 do século passado, não deixando que
se repetissem erros do passado. Temos a nossa oportunidade. Nas crises
moldam-se os líderes. São oportunidades para inovarmos no que podemos
fazer para que a força de um não se sustente pela destruição do seu lado
oposto, pois o movimento de destruição acaba com os dois. Milhões de anos se
passaram nos legando tudo o que temos à nossa disposição para fazer acontecer
na esteira dos movimentos do ciclo contínuo da vida. Não precisamos antecipar pela
incontinência de tentar comandar as coisas hoje aquilo que o Universo em
movimento tende a fazer nos próximos milhões de anos. Desfrutemos da maravilha
que temos: a vida.
Esse é o capítulo do futuro, a que o exercício
das crônicas pode me conduzir: o de mensagens que somam a sabedoria de que é
feito o passado aprendido com a percepção do presente que vivemos sem medo.
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