PORTUGUÊS É (SIM) UMA LÍNGUA DIFÍCIL

PORTUGUÊS É UMA LÍNGUA DIFÍCIL

Setembro de 2024

Essa é uma frase do filme A Chegada. Uma professora de línguas de universidade americana inicia sua aula avisando aos alunos: "Hoje vamos estudar português. Português é uma língua difícil". Os alunos ficam  inquietos e pedem para ligar a TV. No telão um breaking news com imagens ao vivo de naves descendo em vários pontos do país, e o alerta das autoridades de que estava acontecendo algo desconhecido, incomum. A professora vai até a janela e vê uma delas. Todos atendem ao alerta e saem.

O roteiro é criativo e elaborado: ela, chamada pelos órgãos de segurança do país porque conhecedora de "línguas difíceis", poderia decifrar a linguagem de alienígenas pois a inteligência militar não possuía a expertise necessária para se comunicar com os estranhos seres. Foram chamados ela e um físico para decifrar a linguagem destes, porque acrescentaram à técnica de cada profissão a empatia, a emoção. É como hoje e sempre: só com ciência e técnica nada se cria. O que o cientista descobre já existe, só que não se conhecia. Vale a dica de filme.

Precisamos de base concreta de energia para nos comunicarmos. Muita energia. Com esse intuito foi assinado hoje um protocolo de intenções entre o governo e a empresa de data centers, a Scala, para a criação de uma verdadeira "cidade digital", a Scala AI City, em Eldorado do Sul, cidade vizinha de Porto Alegre que foi praticamente destruída pelas enchentes de maio de 2024. 

Se antes os dados do mundo digital eram mantidos armazanados em fazendas, agora o seu volume, crescendo exponencialmente, necessita de cidades para o funcionamento todos os aparelhos da era da internet. Da Inteligência Artificial aos celulares, dos computadores aos satélites, de naves espaciais e máquinas agrícolas, quase tudo o que move o mundo precisa ser armazenado em informações para fazer essesesses aparelhos funcionarem. É preciso um mega-datacenter

Por outro lado, para nos comunicarmos no dia-a-dia falamos nossa própria língua. E falamos mal. Indicadores de qualidade da educação básica no país publicados indicam que difícil é aprender o português. Estamos sempre abaixo das metas fixadas anualmente. O mesmo para a matemática, linguagem que é a base do desenvolvimento da tecnologia da nossa era, a linguagem de máquina. Cresce a proporção de analfabetos funcionais, num fosso que se aprofunda. Analfabetos funcionais, digitais, etários, cresce o fosso entre os que aprendem e os que não. Quem aprende salta à frente. Que o diga um setor em franca expansão: o crime organizado. Dessa desigualdade nasce o conflito, que pode ser evitado com educação. 


                                             Figura 1: Data center

Precisamos de energia, o alimento dos data centers. Mas precisamos de energia para tudo o mais. Temos? Não. É necessário definir prioridades. Isso é política. Decidir entre energia e educação, quanto gastar com cada uma, com que objetivo. Para isso precisamos nos comunicar melhor sobre quem ganha com esse projeto, se fornecer energia para ele não retira os recursos ainda não bem aplicados, por exemplo, em educação básica. A educação de qualidade e universal é que vai permitir a todos utilizar o serviço fornecido pelos data centers no modo de vida cada vez mais digital, assim evitando que não se aprofunde o fosso da desigualdade.

 

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