PRIMEIRA INFÂNCIA: A FORMAÇÃO DE UM SER INTEGRAL

Diários de Viagem (3).

26 DE OUTUBRO DE 2025

O cuidado com a 1ª infância escreve o futuro dos povos. 

Com tudo o que já aprendemos há que cuidar do presente das crianças, se possível desde que concebidas, como fez a médica Zilda Arns através da Pastoral da Criança. Pude cuidar quando, ministra de Itamar Franco em 1993, coordenei a Comissão de Combate à Fome e à Miséria; quando, presidente do Instituto Teotônio Vilela em 2003, criei a Coleção Brasil 2010, com uma das separatas sobre A Primeira Infância no Brasil (Figura 3); quando, deputada em 2017, formei a Frente Parlamentar de Prevenção da Violência; quando, governadora em 2007, a partir do Mapa da Violência implementei a política de estado com o Programa Estruturante de Prevenção à Violência (PPV). Valeu, pois os indicadores sociais deram um salto para melhor.


                                                            Figura 3: Separata do ITV

No meu caso pessoal, não me lembro muito do que aprendi nos primeiros anos em que estudei em colégio de freiras, quando os meninos que estudavam em colégio de padres pareciam mais inteligentes porque sabiam coisas sobre o mundo que nós, as meninas de mesma idade, não. Erro original, logo corrigido pela experiência da vida: não existe hierarquia entre gêneros. Quando fomos para o Liceu Pasteur, colégio misto onde meninas e meninos aprendiam os mesmos conteúdos, a diferença sumiu. Lembro nitidamente dos conteúdos que aprendi então nas aulas de Matemática, Geografia, História, que me encantavam. 

Escolhi depois o Científico, e não o Clássico, divisão daqueles tempos para o Segundo Grau. Éramos 3 meninas e dezenas de meninos, fruto do conluio entre ensino e sociedade que induzia as meninas a escolher profissões “não-científicas” (Figura 1). Tive facilidade para a Física (ver Nota), e grande dificuldade para a Química e seus misteriosos elementos. Sobre Energia aprendi na prática queimando a mão no fogo ou algum aparelho por uso errado. O tal de "ver para crer" funcionava: energia, calor e luz não se pega na mão. Não têm massa. São ondas. Mas movimentam o mundo. E queimam.

                                                Figura 1: As 3 do Científico (Pasteur, 1960)

Em 1961, quando Jânio Quadros fugiu 7 meses depois de eleito presidente, o Brasil mergulhou na crise do desemprego e nenhuma proteção social como salário-desemprego ou caderneta de poupança, criados pelo Governo Militar logo depois. Tendo que trabalhar aos 17 anos, migrei para o ensino público, noturno, e “passamos por decreto” com o fechamento dos colégios pelas badernas de rua. Ou seja, zero de conteúdos dados nos últimos anos do 2º grau, que deixaram de formar com o aprendizado a massa de neurônios. Como acontece com o cérebro se o indivíduo sofre traumas, são buracos que custa cobrir. 

Em 1962 passei no vestibular para Economia da USP, um concurso público que não fazia distinção entre homens e mulheres pela vaga - mas a turma era composta de pouquíssimas mulheres, e como professora apenas uma. Economia era ambiente masculino, não parececia chamar a atneção de mulheres. Matriculei-me no curso noturno para poder trabalhar de dia. Aí era patente uma divisão entre os que estudavam em tempo integral e os do curso noturno: o noturno tinha um ano a mais. Na foto da minha formatura na USP em 1966, éramos 2 mulheres entre muitos formandos (Figura 2).


                                    Figura 2: As duas na Formatura Economia (USP, 1966)

Muito tem mudado desde então. A primeira infância é a fase do desenvolvimento infantil (dos 0 aos 6 anos de idade) quando ocorrem as conexões cerebrais capazes de influenciar no desenvolvimento de habilidades e competências que acompanham o indivíduo por toda a vida. Com um bom ensino já na pré-escola, as crianças aprendem de modo lúdico, sem segredos ou divisão entre gêneros, com o intuitivo preparando para o lógico. Turmas mistas e ensino integral permitem levar a uma escolha de profissão pelos jovens mais adiante não a partir de desigualdades de origem, mas com liberdade. 

Hoje pesquisas seguindo grupos de crianças dos 0 aos 15 anos, um que receba e outro não os estímulos ao intelecto, uma boa alimentação, e cuidados dos pais e cuidadores, mostram um resultado chocante quando analisadas as imagens do cérebro de cada participante desde que nasce. Ele tem a ver com violência, uma epidemia que corrói o mundo todo. Crianças não cuidadas têm verdadeiros buracos na sua massa de neurônios, levando às mais diversas disfunções na vida dos adolescentes e adultos, inclusive violência. 

Ainda hoje, nas escolas, as coisas continuam semelhantes no que tange ao "passar por decreto". Tem muito aluno que não aprende, é reprovado, mas não é reprovado. São múltiplas as causas, as mais importantes derivadas das desigualdades sociais. O aluno vai passando, gerando desajustes, frustrações e desinteresse, e muitos abandonam a escola entrando pelos desvãos de uma sociedade extremamente fragmentada que as desigualdades e a desordem das metrópoles geram, fatores que explicam a violência que vai se intensificando e tornando banal, ampliada pelo mau uso das redes sociais e pelo crescimento do crime organizado que coopta crianças.

Por isso educar desde a primeira infância é requisito fundamental para que as pessoas vivam melhor. A vida é uma dádiva maravilhosa. Cuidemos bem dela, da nossa e da dos outro.

NOTA: Sobre Física

Texto sobre foto de mulher

O conteúdo gerado por IA pode estar incorreto.indicação de cada partícula da estrutura do átomo em imagem colorida com fundo preto

         Figura 3: Tempo                             Figura 4: Matéria

A matéria é massa e ocupa um lugar no espaço, sendo o átomo a unidade fundamental da matéria. Pode ser visto como um “bloco de construção”como no Lego, pois a forma de como os átomos se organizam dá origem a toda matéria existente, de árvores a estrelas, ar, água, animais, plantas, ouro, granito, ferro, etc. A matéria é formada por partículas indivisíveis e constitui o universo observável, os objetos, por apresentar massa e volume. Aquilo que não é classificado como matéria é chamado de energia. Sendo assim, a luz, o calor e a radiação são energia e não matéria. A luz, que é partícula e onda, é o agente físico que permite que os objetos sejam visíveis. Vale lembrar que matéria é tudo aquilo que tem massa e ocupa um lugar no espaço, composta por átomos que se agrupam e formam as diferentes substâncias químicas (moléculas ou cristais) existentes. Todos os esforços para desenvolver a ciência da Química permitiram que o ser humano conhecesse a matéria e os meios de transformá-la, de modo que o conhecimento fosse usado para nosso benefício.

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