A INSTANTÂNEA BELEZA DO INESPERADO
09 de julho de 2025
Figura 1: pôr do sol Figura 2: ato público manipulado
Como em A Bela e a Fera, há um contraste gritante entre a beleza que a natureza nos oferece e o seu uso pelos que não a valorizam. Somos a cada passo surpreendidos com beleza do inesperado (A Simples Beleza do Inesperado, Marcelo Gleiser, 2016), a dádiva da
natureza captada por celular num instante do pôr do sol no Guaíba (Figura 1). O seu contrário é captado em foto preparada de ato que convoca (Figura 2) para o
conflito fabricado, lembrando a velha luta de classes, a dos “pobres contra ricos”, em narrativa para justificar mais um aumento de impostos pelo governo perdulário.
Imagens lançadas nas redes sociais formando narrativas que levantam impulsos e emoções conseguem vender, mesmo que enganosas. Outras, que levantam o rancor dos eleitores são capazes de definir o voto como reação e rejeição a injustiças (Os Engenheiros do Caos, de Giuliano da Empoli, 2019), ou o apoio a falsas propostas de justiça como as políticas tipo robin wood, ou essa de "pobres contra ricos". O voto, inovação dos sistemas democráticos, é arma capaz de colocar no poder até quem queira, tomando o poder, dar fim à própria democracia. Há muitos exemplos atuais acontecendo.
Inovações como a pólvora, por exemplo, explosivo para construir de modo eficiente estradas, também é arma nas mãos de quem faz a guerra. A descoberta da fissão nuclear é outro exemplo. Celebrada como a descoberta de fonte duradoura e barata de “energia limpa”, é a base da arma atômica capaz de levar ao fim da Humanidade. Toda moeda tem dois lados. Nos processos de decisão tanto individuais quanto coletivos deve hacer liberdade para escolher a partir de informações confiáveis. Quando uma delas, ou as duas, falham, a decisão pode levar a péssimas consequências.
Mas não vamos tão longe. O aparelhamento de instituições criadas para equilibrar as partes que compõem as relações sociais, por exemplo, desvirtuam o fundamento de sua criação. Acabam sendo usadas para todo tipo de desvios e enriquecimento ilícito. Exemplo recentíssimo é o dos golpes bilionários contra aposentados do INSS: agentes do próprio INSS com acesso à folha de pagamentos usaram seu acesso a informações digitais para roubar aposentados ao formar uma rede de corrupção e crime de assombrar. Outro recente é o roubo também bilionário do dinheiro do seguro obrigatório contra perdas de
clientes do sistema financeiro: depositado em confiança no BACEN, com o uso de senhas internas agentes credenciados pelo mesmo BACEN para proteger os clientes surrupiaram o dinheiro distribuindo-o entre comparsas dentro do próprio sistema.
Leis são elaboradas para a definição de
políticas públicas que façam fazer valer direitos, punir crimes, gerar mais justiça, amálgama institucional na formação dos sistemas sociais. Cabe ao elaborado sistema de justiça, operado por instituições republicanas acreditadas, sua aplicação. Hecha la ley, hecha la trampa, diz
a expressão popular. Seu aparelhamento para fins políticos, no entanto, tem feito com que seja utilizado para ganhos privados, para cerceamento de direitos como o da liberdade, para operação no crime organizado - praga crescente, para o cometimento de toda forma de injustiças. O tecido social, com isso, se corrompe. A história das revoluções é feita, em grande parte, de movimentos para barrar essa corrosão.
Com o noticiário incapaz mesmo de cobrir o tsunami de casos surgindo como tsunami diário, parece que estamos chegando a um limite. É o que aponta a notícia de hoje, bombástica, sobre pesquisa do Atlas/Intel/Bloomberg (VGNJUR, 08072025). Para 42,8% dos entrevistados, é o Judiciário a principal ameaça à democracia. Depois vem o Governo (38,8%), o Congresso (28,9%), a Elite (25%), a Oposição (24,4%), o Crime Organizado (21,9%) e assim segue. É a percepção do povo mostrando um descrédito nas instituições que organizam o sistema republicano. E isso bate na formação dos motivos do voto. Na preparação das eleições a opinião pública vale ouro, apesar ds tentativas de manipulação que tem sofrido.
Por essa situação somos todos responsáveis, embora muitos de seus causadores o neguem, tomados por uma cegueira moral poderosa. Antes que o caldeirão estoure, e as consequências da irresponsabilidade sejam ainda mais nefastas, é preciso dar um basta. Nem com todos os males praticados, não se acaba com a infinita beleza do inesperado. Que venha.
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