O TEMPO E O MEU TEMPO
Maio 2025 (III)
Tempo é uma ideia que me fascina. É quase um mistério que busco desvendar lendo (Figuras 1 e 2, disponíveis no Google)). Ao longo da História cientistas já disseram que o tempo é absoluto (Newton), que ele é relativo (Einstein), ou que ele é uma ilusão (Rovelli). Fascinante.
Figura 1 Figura 2
No meu concreto sentimento de estar no mundo sigo o passar do tempo pelos relógios. Desde o relógio-cuco até o usual de cozinha, mantenho vários sempre funcionando. Uso o tradicional relógio de pulso e, meio a contragosto, olho as horas no celular só quando não tenho o mecânico por perto. Questão de preferência, pessoal e etária, em plena Era Digital.
Um relógio mecânico marca o tempo de uma volta da terra em torno do sol em 12 horas, convenção para a duração do dia e da noite. Já o "relógio biológico" (Figura 3) marca o ritmo natural do corpo nessas 24 horas do dia regulando as principais atividades biológicas como metabolismo, sono e vigília. Sou, pelo meu ritmo biológico, diurna. Acordo com o sol, não importa quantas horas tenha dormido.
Figura 3 Figura 4
Relógios apenas medem o tempo por uma escala humana. Já o corpo de cada ser vivo carrega em si o tempo no DNA, a molécula da vida, portadora da mensagem genética (Figura 4). Ocupando apenas 3% da matéria de que é feito, o DNA carrega no genoma toda a informação genética e a transmite a seus descendentes. Nas 46 sequencias do DNA - os cromossomos, 23 são recebidos pelo pai e 23 pela mãe. O sequenciamento do genoma pelo DNA (2014) mostra que é muito pequena a diferença entre nós e os outros seres vivos. Por ele também se tem podido evoluir muito no diagnóstico e cura das doenças, e calcular a idade do esqueleto de dinossauro recém descoberto na região de Santa Maria (RS).
Mas na escala da evolução somos muito diferentes dos outros seres vivos. Dos 4 bilhões de anos de existência da vida estimada na Terra nós, os Sapiens Sapiens, existimos há apenas 10 mil anos, desde que, no fim da última Era Glacial, recebemos um tépido planeta com as condições da vida que temos, na sua maravilhosa diversidade. Somos os únicos seres vivos a inventar a roda e a linguagem. A roda mudou o mundo pela mobilidade que permitiu às pessoas e ao funcionamentodas máquinas.
A roda (...) permitiu os avanços desde a mecânica (...) e até o tempo, representado por relógios, (...)ela teve um papel central no avanço das civilizações. A origem da roda remonta a cerca de 3500 a.C., na Mesopotâmia, simboliza o nascimento da mecânica aplicada à vida cotidiana. (Mundo Indecifrável: o Conhecimento em Cliques. A.Júnior. 16/04/2025).
Já a linguagem nos alçou a patamares de conhecimento e ação únicos. Disso temos consciência. Mas há dúvidas sobre se temos consciência do que temos feito com o que criamos, e ao que isso nos leva. Guerras praticam crueldades em nome da ideologia ou da religião, ainda com a ameaça do uso de armas atômicas desenvolvidas nos anos 1940. Cresce a possibilidade de exaurismos recursos acumulados nesses 4 bilhões de anos da Terra pelo uso que fazemos deles. Se avançamos muito rapidamente na ciência e na tecnologia (C&T), o fazemos num ritmo que não considera que o planeta tem recursos finitos. Crescer sem limites é insustentável.
Dois recentes avanços da ciência e da tecnologia (C&T) são importntes para compreendermos o que somos, ou o que nosso mundo é. Com o sequenciamento completo do genoma (2014), e o lançamento do telescópio espacial James Webb (2021) temos podido rever teorias sobre a vida e o universo que nos acompanham há séculos. O telescópio segue viajando pelo universo com combustível para operar 20 anos, enviando imagens captadas hoje do que aconteceu há milhões de anos atrás, revolucionando nosso conhecimento sobre o universo. Onde fica o tempo?
Já o sequenciamento completo do genoma permite confirmar que muitos dos 8 bilhões de serem humanos hoje vivos na Terra têm como ancestral Gengis Khan (1100/1200), aquele que deixou centenas de filhos por onde andou na construção de seu império. Por medo, vaidade ou ignorância, há quem não reconheça o que eles mostram, repetindo o mantra "nunca antes na história deste país". Alguns afirmam que a terra é plana, ou que o homem nunca foi à lua, ou que não precisamos de vacinas porque o vírus é fraco. Só que a concretude da ancestralidade presente em nós hoje está num simples exame de DNA. E a História registra tudo o que veio antes, universo de fatos hoje armazenados em "nuvens" digitais que podemos acessar por um simples programa de computador, tipo Chat GPT.
Alguns Sapiens aprendem com a experiência e com a História. A outros não interessa aprender.
Isso porque desde o início da História a
espécie que cria é a mesma que destrói. Duas faces da mesma moeda, como mostram fatos recentes deste mundão. Pelo lado da criação vamos ficar nos dois avanços citados. Pelo lado da destruição vou citar dois outros fatos como exemplo. Nos feriados desta Páscoa no Rio Grande do Sul
foram registrados 10 feminicídios, todos cometidos pelos ex-companheiros das
vítimas, das mais diferentes idades, nas mais diversas situações. O número chocou, mesmo que estatísticas de 2024 já tenham mostrado que morrem por serem mulheres (feminicídios) 4 mulheres a cada dia no Brasil. Chocante também pela sua crueldade e dimensão, explodiu a realidade em números bilionários do roubo praticado contra
pensionistas e aposentados do INSS em todo o país. Apesar de denunciado repetidamente, o roubo continuou em ritmo assustador, organizações de fachada descontando diretamente dos contracheques e sem
seu conhecimento, "empréstimos em consignado" e uma certa
"contribuição a associações de defesa dos aposentados e sindicatos da
área". Roubando os mesmos de quem o INSS deveria estar cuidando.
Não pelas estatísticas apenas, mas pela natureza do fato registrado, já entrando em maio após um ano da catástrofe das enchentes, homenageamos os milhares de voluntários anônimos que, vindos de todos os cantos do país e do mundo, deixaram a sua vida normal para ajudar milhares de pessoas e animais em perigo, em ações que se somaram à resiliência das vítimas e definiram na prática o que é empatia: o sentimento de nos colocarmos no lugar do outro e por isso agirmos a favor desse outro.
Não é uma quetão de opinar sobre o que vale mais nessa seleção de eventos. A questão é sobre o valor das coisas. Com os desastres, muitos aprendem. Nas catástrofes moldam-se os líderes que seguem o chamado e passam a conduzir as mudanças necessárias para seguirmos como sociedades que evoluem. Com o que vivemos na pandemia de 2020/2022, e com as enchentes do RS, aprendemos com o exemplo e as ações de todos. Eles nos estimulam a reafirmar ser possível agir na crença de que os dois lados opostos se equilibram. Na verdade, um sustenta o outro, no ciclo contínuo da vida. Que a mesma luz que influencia espaço e tempo possa iluminar o caminho de todos, na consciência que nos é oferecida pelo aprendizado da vida.
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