O FIO DE ARIADNE, PARA ALÉM DO ARCO ÍRIS
23novembro2024
Para os leitores, o alerta: esta é uma longa crônica, para fechar 2024. Com ela informo que saio da vida político-partidária e encerro mais um dos meus ciclos de vida. Entro no quarto ciclo livre de contratos, e com tudo o que a vida me proporcionou experimentar e aprender.
O Fio de Ariadne é um mito bem antigo. Escolho esse título porque ele tem muito a ver com a vida como um labirinto, e também como algo mágico que vamos aprendendo a desvendar ao longo do tempo. Over the rainbow, para além do arco íris, é o título da música do filme O Mágico de Oz, um dos meus preferidos, em refilmagem premiada pelo Oscar deste ano com Wicked. São parte da história dos tapetes que fiz durante a pandemia de 2020-2022, que conto agora.
"assim chamado devido à lenda de Ariadne, para descrever a resolução de um problema em que se podem usar diversas maneiras (como exemplo: um labirinto físico, um quebra-cabeça de lógica ou um dilema ético), através de uma aplicação exaustiva da lógica por todos os meios disponíveis"e "constantemente visto como a imagem com a qual se tece a teia que guia o Homem na sua jornada interior, e o ajuda a se desenredar do caminho labiríntico que percorre em sua busca do autoconhecimento (Ana Lúcia Santana, Infoescola)".
Acordo sempre bem cedo a dança de imagens que os sonhos trazem no despertar. Levei algumas para vários tapetes que bordei no período de pandemia, de meadas compradas pela internet, de diferentes qualidades de lã. Os pontos não ficam perfeitos. Perfeita é só a natureza. Vamos à história desses tapetes.
Nossos dias tem sido marcados pelo noticiário de guerras, justificadas pela defesa de territórios e religiões. Há um símbolo evocando a paz, que uso em gargantilha comprada na Turquia em 2013, feito das três maiores religiões monoteístas (Figura 1). Na gargantilha está um só desenho, simbolizando a possibilidade de convivência entre os povos, apesar da diferença entre crenças. Já em 2023 (Figura 2) bordei no ano do aniversário de 250 anos de Porto Alegre os elementos que contêm minha oideia de poder e magia. Nele estão dois palácios, o de Esmeraldas de O Mágico de Oz, e o Piratini. Bordei nele o Cais Mauá, importante no período em que ocupei o Piratini, com o projeto do cais já assinado, e com o meu catamarã cruzando o Guaíba, como a travessia alternativo a estradas e pontes, tão desejada. Pela água.
O desenho de um tapete (Figura 2) me foi inspirado por um despertar em que a imagem de Dorothy, usando seus sapatinhos vermelhos eternizados no filme O Mágico de Oz, dividia a dança das imagens com a da charge do Marco Aurélio, publicada na ZH no dia seguinte às eleições de 2006. O N de PiratiNi foi um sapato de salto alto vermelho para mostrar que uma mulher seria a primeira mulher a ocupar o palácio como governadora. Os palácios são símbolos de poder. A magia e o mágico buscados por Dorothy, entretanto, não estão nos palácios, nem no Palácio das Esmerandas, nem no Piratini da Praça da Matriz de Porto Alegre. A magia está em nós. Nem existe um baú cheio de moedas (riqueza que mora no bem público) no fim do arco-íris.
Coloquei os símbolos das três maiores religiões em tapete bordado em 2024, o ano das catastróficas enchentes que deixaram o Cais Mauá, toda a cidade, o aeroporto, todo o estado, submersos. 2024 foi também o ano em que teve fim depois de 17 anos um processo que é um exemplo de como é amarrada a nossa Justiça. Tanto pelo enfrentamento das enchentes quanto pelo processo, o certo é que acordei com a canção Juízo Final, cantada por Clara Nunes, e desenhada em pauta, que encima a biblioteca no tapete.
Ideias e religiões são tema de qualquer biblioteca que se preza, e a defesa delas é frequentemente usada como motivo de guerra. Os símbolos das religiões da gargantilha estão na lateral da biblioteca desse tapete, com uma esperança, que vem na pauta com a primeira estrofe da música de Élcio Soares e Nelson Cavaquinho, Juízo Final. O sol há de brilhar mais uma vez. A homenagem às artes como literatura e música formam o tema do tapete. O cinema, outra arte, é o tema do tapete da Figura 2.
Depois vieram as inovadoras prévias do partido em 2021, e pela plataforma foram feitos os debates entre os três pré-candidatos a presidente – que acabamos não tendo. Ah, vaidades... Envaidecidos com o imenso poder que os decretos do "fique em casa" lhes deu, duelaram pelo espaço que só as prévias democráticas realizadas com os votos dos filiados permitiriam ocupar. Democracia interna ferida, não tivemos candidato a presidente pela primeira vez desde a redemocratização. Pena.
Em 2022 encarei mais uma vez a responsabilidade de incentivar, mobilizar e capacitar milhares de candidatas para as eleições gerais usando a plataforma PSDB Brasileiras/PSDB Mulher. O desafio foi enfrentado mais uma vez com excelentes resultados. Dobramos o número de eleitas. Enfim pude "dar por encerrada a sessão", como se diz na política, entreguei a presidência do PSDB Mulher depois de 6 anos de grandes desafios e reconhecidos resultados, e desfiliei-me.
Pandemia terminada, vírus atacado com vacinas, retorna-se à política sem o isolamento forçado, incorporando cada vez mais o mundo digital ao dia-a-dia da vida. Esse mundo afasta do presencial, quando se aprende na troca com o outro, além de permitir pesadas fraudes e manipulações pelo jogo das fake news. É a realidade do milênio, que nasceu como um poderoso sopro de liberdade que se esperava que o mundo das redes permitiria. Foi o uso desse instrumento, como o facebook, fundamental para chamar multidões para as praças e derrubar longevas ditaduras na "primavera árabe" dos anos 2010. Como sempre, tem o outro lado na moeda da vida. Outras ditaduras nasceram. Para combater o que causa essa sequência de eventos negativos a vacina tem que ser contra outro vírus, aquele que coloca nossa Terra e sua gente a perigo.
Ainda não descobriram essa vacina.
Para além das questões climáticas e sanitárias, pesadas sombras de guerra chegam à Europa novamente, desde que Putin invadiu a Ucrânia em fevereiro de 2022, e os atos terroristas do Hamas em Israel em outubro de 2023 levaram a uma nova guerra entre Israel e os terroristas sediados na Faixa de Gaza. Há uma interrogação sobre o que fará Trump no novo mandato. Entra novamente o mundo num labirinto do qual não se sabe como sair. O fio de Ariadne é apenas um mito. Dizem na Prússia: felicidade é o intervalo entre a útima e a próxima crise. Períodos democráticos sempre foram curtos.
Acordamos no novo milênio com a realidade do terrorismo, dos extremismos, e velhos "ismos" renascendo como walking deads. O que fazer? Para responder, temos que entrar no labirinto da política atual com o fio dos nossos valores, que fundamentam o mundo que queremos construir.
A
magia que Dorothy buscou para encontrar no Palácio de Esmeralda também. O Mágico de Oz não existe. A magia está em nós (Figura 2). Continuamos sonhando, expressando esses sonhos em todas as formas de arte. Na
coragem para fazer. Na solidariedade que recebemos do mundo todo nas enchentes. Nos pesquisadores que desenvolvem remédios para nossas doenças. Na crença de que é possível.
As
folhinhas do calendário vão continuar a virar, e 2025 se aproxima. Que seja um
Feliz Ano Novo!
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