30 ANOS ESTA NOITE: UM REGISTRO PARA TEMPOS DE MUDANÇA
Porto Alegre, 29 de agosto de 2024.
Um título bem dado é capaz de gerar um símbolo clássico. É o caso dos 30 Anos Esta Noite. Louis Malle em 1963 lançou em P&B o filme Le Feu Follet, adaptação do livro de Pierre Drieu La Rochelle traduzido no Brasil como 30 anos Esta Noite (Figura 3). Tornou-se uma marca, tanto que livros e artigos foram publicados com esse título desde então, para marcar algum evento que estivesse completando 30 anos. Por exewmplo, os 30 anos de Real neste 2024 (Figura 2). Outro exemplo: meus 30 anos de Minist´rio Itamar Franco, que promoveu as condições para a criação do Real (Figura 1). Era forte a influência francesa entre nós, da cultura à produção de todas as formas de arte e movimentos sociais, na política e na indústria. O filme foi um sucesso mundial, na esteira da filosofia existencialista que conquistava a nova geração. Os loucos anos 60.
Vale muito a pena falar um pouco do primeiro período, em que o mundo deu várias voltas, começando com a renúncia de Jânio Quadros, eleito em 1961. Num país ainda sem proteção trabalhista, a crise da renúncia deixou sem emprego meu pai e muitos, o que significava não ter mais como comprar o pão de cada dia. Com 17 anos fui atrás do meu primeiro emprego, o do meu valioso primeiro salário-mínimo. Ainda estudante do ensino médio sem aulas, “passei por decreto”. A lacuna na minha formação sinto até hoje. Discursos inflamados do presidente Jango Goulart, vice que assumiu em 1961, acompanhavam o ambiente da América Latina influenciada pela Revolução Cubana de Castro. Tivemos, de 1961 a 1963, a segunda experiência parlamentarista do Brasil. Que tempos!
Ingressei
em 1963 na Economia da USP, no centro de São Paulo, na rua Dr. Vila
Nova, ao lado da rua Maria Antônia e sua influente Faculdade de Filosofia, e onde ficava também o Bar sem Nome, lugar onde
todos os tipos de batidinhas embalavam nossas madrugadas de boemia e eram
criadas músicas para os festivais da época.
Em
1964, Jango foi afastado e tomou o poder um Governo Militar. Muitas instituições que
conhecemos hoje foram então criadas pelo Decreto-Lei 200: o Banco Central, o salário-desemprego,
a caderneta de poupança, e várias instituições que existem até hoje. Com o todo-poderoso
Ministro Delfim Neto, professor da FCE/USP, a profissão de economista ganhou valor.
Nos agitados anos 1960 tem a efervescência cultural, os
festivais de música, a guerrilha, os movimentos hippie e black power,
a guerra do Vietnã, o assassinato de grandes líderes como Kennedy e Martin
Luther King , o homem na lua, e um maio de 1968, com o movimento de estudantes
de Paris imediatamente exportado para todo o mundo. Foram fechadas as
faculdades da Dr. Vila Nova e da Maria Antônia quando, no movimento dos “estudantes
de maio de 1968”, a morte de um deles na Maria Antônia deflagrou o Ato
Institucional (AI-5) que fechou o Congresso Nacional e gerou mais uma forte
crise política, a dos Anos de Chumbo. Os cursos, como o de pós-graduação
que eu cursava, foram transferidos para a ainda inacabada Cidade Universitária,
em Pinheiros. Ou seja, nada de aulas e, para muitos, novamente o “passar por
decreto”. Ah, sim, fecharam também o Bar Sem Nome e os festivais.
Tempos de mudança. Nós, estudantes de pós-graduação aportamos nas montanhas de Boulder, Colorado, dividindo-nos entre várias universidades americanas. Fomos para Nashville, Tennessee, onde Crusius e eu nos casamos. Chamados para compor a equipe que criou o pós-graduação em Economia da UFRGS, viemos para Porto Alegre em 1970. Aqui plantei raízes, criei família, numa riquíssima vivência profissional como professora da UFRGS e comunicadora em muitos veículos de comunicação.
De 1993, no meu novo ciclo pessoal, assumi como Ministra nos tempos difíceis de hiperinflação. Vários planos econômicos haviam fracassado da década dos 1980, a “década perdida”. Inflação, recessão, quebra de países endividados. Em 1990 o Plano Collor, numa verdadeira traição contra o povo, congelou os saldos das cadernetas de poupança, que era um universal instrumento de defesa dos que ganhavam menos contra a perda pela inflação. O plano, é claro, fracassou. Mais uma crise econômica e política. Impeachment. Enquanto isso, o fato mundial mais relevante, que foi a queda do Muro de Berlim em 1989 dando fim à Guerra Fria e abrindo caminho para a construção de um mundo com a formação da União Europeia e o Euro.
Durante a Assembleia Nacional Constituinte, em 1988 nasceu o PSDB fundado por grandes líderes. Um de seus fundadores, Mário Covas, foi nosso candidato a presidente em 1989, a primeira eleição para presidente da minha geração. Sonhava-se um mundo de desenvolvimento e paz a ser construído pela via política. Participei do sonho. Vivemos o sonho. Era preciso “voltar às ruas”. Fazer política. Filiada ao PSDB, participei como Ministra, governadora, deputada federal, candidata a prefeita, e vivi intensamente o cotidiano de um partido que comandou a transformação do país com o Real, suas reformas, seus líderes. Como governadora liderei a transformação da realidade deficitária do Rio Grande do Sul, com a melhoria de todos os indicadores sociais e altas taxas de crescimento. Vivemos um período de estabilidade e desenvolvimento (2007/2010) no estado.
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